Conselhos de Carreira do Coach
mais famoso do mundo
O
americano Marshall Goldsmith já orientou mais de 50000 executivos e é autor do
livro What Got You Here Won´t Get You There
O americano Marshall Goldsmith, de
60 anos, faz o que poucos se atrevem a fazer: ele se tornou um especialista em
mexer em times, ou mais especificamente em jogadores, que estão ganhando.
Atualmente, ele é o mais renomado (e o mais caro) coach de executivos.
Matemático de formação, com MBA e PhD em comportamento organizacional pela
Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, Marshall ensina
como ótimos profissionais podem se tornar ainda melhores.
Em 30 anos de carreira, ele se
vangloria de já ter recebido o feedback de 50 000 executivos pelos treinamentos
que realizou. Segundo Marshall, oito em cada dez profissionais que passaram
pelo seu programa o consideram entre os 20% melhores programas de formação de
liderança. Os preços cobrados pelos seus treinamentos são salgados. Executivos
que o contratam chegam a desembolsar 250 000 dólares em honorários.
Seus clientes são, de acordo com suas próprias palavras, presidentes ou
potenciais presidentes de companhias multibilionárias. "Eu não trabalho
com pessoas que estão a ponto de ser demitidas", diz. Marshall tem 26
livros publicados, considerando os que assina em coautoria com outros
especialistas. No momento, ele está concluindo seu próximo livro, cujo título é
Mojo, que será publicado em fevereiro, nos Estados Unidos. Nele, Marshall faz
uma análise detalhada dos atributos que determinam o sucesso no mundo
corporativo.
" Se for contratar um coach,
não conte a ele seu problema, pergunte antes qual é a sua especialidade "
Como você
define seu trabalho?
Minha área de especialidade é ajudar líderes bem-sucedidos na transformação
positiva e duradoura de comportamento. Líderes com os quais trabalho recebem
feedback confidencial de todos seus chefes, pares e subordinados e assim
identificam o comportamento mais importante a ser transformado. Nós temos um
processo de follow up [acompanhamento] muito disciplinado, pelo qual os líderes
são monitorados no seu processo de transformação de comportamento, sendo
julgados pelas pessoas certas.
Qual foi o caso mais complicado
que você atendeu como coach?
Foi o caso de um executivo que serviu de inspiração para o personagem de Gordon
Gekko, no filme Wall Street. O ator Michael Douglas ganhou o Oscar de melhor
ator com o papel de Gekko, para muitos a personificação da ganância. Ele era o
estereótipo do banqueiro de investimento, considerado rude por todos ao seu
redor. A sua pontuação no quesito respeito no tratamento as pessoas, medido por
avaliação 360 graus, era de 1% de aprovação. Ao final de um ano no qual
trabalhei com ele, sua avaliação subiu para 53,7%. Ele percebeu que o seu
comportamento constituía um exemplo muito ruim para seus filhos. Ao não querer
que eles agissem da mesma maneira, começou a mudar.
Qual é a
diferença entre coaching e counseling?
O que eu faço não tem nada a ver com terapia, cujo foco é o
passado. Eu não trabalho com pessoas que estão a ponto de ser demitidas. São
presidentes ou potenciais presidentes de companhias multibilionárias. Meu foco
está no futuro, e não no passado. Portanto, eu não dedico tempo algum para
falar sobre papai e mamãe, o que aconteceu na infância ou coisas do gênero.
Há uma frase do guru Peter Drucker
que diz que o líder do passado sabe dar ordens, enquanto o líder do futuro sabe
como pedir. Por que os gestores relutam em praticar esse ensinamento?
Para conseguir transformar comportamentos, líderes precisam
pedir feedback. Nas minhas aulas, pergunto aos alunos se eles consideram a
satisfação do consumidor importante, e eles dizem que sim. Eles concordam que
as empresas precisam escutar o consumidor para melhorar seu desempenho. Então
lhes pergunto quanto tempo dedicam a perguntar como ser um melhor companheiro
aos seus parceiros. A resposta é o silêncio total. O que me sugere que
acreditamos na ideia de pedir feedback até o momento em que ele se aplica a nós
mesmos. O que eu ensino é aplicar esse conceito a nós mesmos.
Recentemente,
o senhor escreveu em seu site, na revista BusinessWeek: “Adicionar valor é um
desafio clássico para pessoas inteligentes e bem-sucedidas. Como líderes,
precisamos passar do papel de realizador para o de desenvolver pessoas”. Como
se faz essa transição?
Essa é uma das transições mais difíceis para os líderes, porque, para o grande
realizador, tudo gira ao seu redor. Mas, para o grande líder, tudo deve girar
ao redor dos outros. Essa transição é muito difícil porque o foco da atenção é
completamente diferente.
Como fazer essa transição?
Uma das coisas que tento ensinar aos profissionais que treino é verificar se
vão adicionar valor antes de falar. Outro dia, perguntei a um dos meus clientes
o que ele havia aprendido sobre liderança. Uma lição difícil, ele disse, é que
sugestões se transformam em ordens, independentemente de serem estúpidas ou
não. O que eu ensino é olhar nos olhos da pessoa com quem estamos falando e
perguntar a si próprio: “O comentário que estou prestes a fazer vai aumentar o
comprometimento dessa pessoa?”. Se a resposta for não, por que, então, fazê-lo?
Há momentos em que esses comentários precisam ser feitos de qualquer forma, mas
em outros, não.
Como identificar um bom coach?
Se você quer contratar um coach, não conte a ele imediatamente qual é o seu
problema. Pergunte qual é a especialidade dele. Assim, você poderá identificar
se a sua necessidade casa com a especialidade do coach. Em segundo lugar, não
se detenha em diploma ou credenciais. Converse com clientes, busque referências.
Se o coach lhe disser que seus clientes são confidenciais, procure outro.
Você trabalha com executivos bem sucedidos
do primeiro escalão de grandes empresas. O que motiva essas pessoas a procurar
um coach?
No caso dos presidentes, o que eles procuram é como ser um bom
exemplo. Nesse caso, o melhor que têm a fazer, para levar os demais a uma
melhora de desempenho, é melhorar a si próprios a olhos vistos. Nesse processo,
os funcionários tendem a reconhecer a necessidade de melhorar também. Tiger
Woods, o melhor jogador de golfe do mundo, tem três coaches. Pessoas
inteligentes estão sempre procurando melhorar, não importa o quão boas
sejam.
O outro grupo de clientes que eu atendo são os potenciais presidentes. Esses
geralmente precisam mudar um ou dois aspectos de comportamento. Há uma
correlação inversa entre a necessidade de educação e o desejo de educação. As
pessoas que mais querem ajuda, normalmente, são as que menos dela necessitam.
As pessoas que mais precisam de ajuda são as que menos a querem. Eu lido com
pessoas que não precisam [da ajuda de um coach], mas que a querem.
Você encontra algum tipo de
resistência no processo de coach desses executivos?
Eu recebo feedback das pessoas que trabalham com esses executivos e eu os
desafio a definir o que eles querem mudar. Eu não tento convencê-los, nem
coagi-los. Se eles não estiverem dispostos a passar pelo processo, eu digo
adeus.
Como o processo com esses
executivos pode servir de lição a pessoas interessadas em promover mudanças de
comportamento?
Meu próximo livro vai se chamar Mojo. Ele trata do espírito
positivo que certas pessoas emanam de dentro pra fora. Uma das qualidades das
pessoas de muito sucesso é que elas fazem duas coisas ao mesmo tempo. Elas se
dedicam a algo que produz satisfação de curto prazo, ou felicidade, e ao mesmo
tempo produzem resultados de longo prazo, ou conferem significado as suas
vidas.
A crise impactou seu trabalho?
Antes da crise financeira, as solicitações eram três vezes superiores aos dias
que eu tinha disponíveis para atender clientes. Agora eu tenho uma vez e meia
mais solicitações do que dias disponíveis. Continuo com a agenda lotada.
Que sinais podem nos ajudar a
identificar que uma mudança de comportamento é necessária?
Você pode nunca ter tais sinais. O que eu sugiro é incorporar o hábito de pedir
feedback às pessoas.