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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Defina o sucesso em seu íntimo, então... encontre o caminho que o leve até lá.

Mesmo com um cargo pomposo e um salário espetacular, muitos executivos de destaque não se sentem profissionalmente satisfeitos, nem realizados. Ao olhar para trás, acham que deviam ter feito mais ou até escolhido uma carreira totalmente distinta. Não raro, se sentem aprisionados ao trabalho.
Neste artigo, Kaplan, professor da Harvard Business School, explica por que alguém chega a esse impasse — e mostra como o indivíduo pode rompê-lo para atingir seu pleno potencial. A meta, aqui, é fazer um exame muito pessoal de como a pessoa define o sucesso em seu íntimo para, então, poder encontrar um caminho que a leve até lá.
Para tanto, é preciso parar um instante e reavaliar a carreira — partindo com o reconhecimento de que administrá-la é sua responsabilidade. Embora muita gente se sinta vítima, a maioria dos danos causados à carreira parte da própria pessoa. Para assumir as rédeas é preciso, primeiro, entender a si mesmo: buscar um feedback honesto sobre seus pontos fortes e suas debilidades junto a colegas acima e abaixo de você, e descobrir o que realmente lhe dá prazer. Essa compreensão — e não a definição de sucesso dos outros — deve guiar suas decisões e metas profissionais. O passo seguinte, crucial, é identificar as três ou quatro atividades centrais a seu trabalho e garantir que, em todas, sua atuação se destaque; caso contrário, dificilmente o sucesso virá.
Tendo escolhido a área certa de atuação, é preciso exibir caráter e liderança. Um grande executivo coloca os interessas da empresa e de colegas à frente dos seus. Está disposto a dizer o que pensa, ainda que sua opinião não seja popular. Muitos gerentes estancam por evitar qualquer risco. Já aqueles que identificam seu sonho, adquirem a capacitação para torná-lo realidade e exibem coragem acabarão se realizando — ainda que encontrem obstáculos no caminho.
A realização não vem de derrubar entraves criados pelos outros, mas de superar obstáculos que você mesmo colocou no seu caminho.
Um profissional ambicioso costuma passar um tempo considerável pensando em estratégias que o ajudem a atingir um grau ainda maior de sucesso. Luta para conseguir um cargo mais imponente, uma remuneração maior e responsabilidade por um volume superior de receitas, lucros e funcionários. Sua definição de sucesso é, em geral, fortemente influenciada pela família, por amigos e por colegas.
Muitos, no entanto, acabam descobrindo que, apesar do esforço e das conquistas, falta em sua vida um verdadeiro senso de satisfação e realização profissional.

Este artigo tem o objetivo de ajudá-lo a examinar a seguinte questão: “Estou atingindo meu potencial?”. Não é o mesmo que perguntar “Como chegar ao topo?” ou “Como ter sucesso em minha carreira?”. A meta é, antes, fazer um exame muito pessoal de como o indivíduo define o sucesso em seu íntimo e, então, encontrar um caminho que o leve até lá.
Para tanto, é preciso parar um instante e reavaliar sua carreira — partindo com o reconhecimento de que administrá-la é sua responsabilidade. Um número excessivo de gente se sente vítima da própria carreira, quando na realidade possui um grau considerável de controle. Para assumir as rédeas a pessoa precisa reexaminar o próprio comportamento em três grandes áreas: conhecer a si mesma, destacar-se em tarefas críticas e demonstrar caráter e liderança. 
Conheça a si mesmo
Para assumir a responsabilidade pela própria carreira é preciso, primeiro, fazer uma avaliação fiel de sua qualificação e de seu desempenho no momento. Você é capaz de colocar no papel dois ou três de seus grandes pontos fortes e duas ou três de suas maiores deficiências? Embora consiga especificar os próprios pontos fortes, a maioria das pessoas tem dificuldade para identificar debilidades importantes. Esse exercício envolve uma reflexão sincera e, quase sempre, exige que a pessoa ouça a opinião de gente que lhe dirá a verdade nua e crua. Infelizmente, em geral não dá para esperar que o chefe avalie honestamente seus pontos fortes ou lhe indique onde você deixa a desejar. Cabe a você assumir o controle do processo, buscando orientação, pedindo feedback bastante específico e se dispondo a ouvir a opinião de uma ampla gama de indivíduos em diversos níveis da organização. Colher feedback precisa ser um processo constante, pois à medida que avança na carreira você enfrentará novos desafios e novas exigências.
Nunca deixo de me impressionar com a capacidade do ser humano de mudar e melhorar uma vez ciente daquilo que tem de pior e de melhor.
Naturalmente, pedir que os outros apontem suas deficiências não é fácil, sobretudo se estivermos falando de subordinados. É um pedido a ser feito numa conversa a sós com esse potencial coach — que precisa de tempo para se convencer de sua sinceridade. Ao verem que o chefe está agindo com base no feedback deles, os subordinados tendem a adotar uma postura mais proativa na hora de dar conselhos, pois sabem que sua opinião é valorizada. Além disso, subordinados e colegas passarão a sentir interesse em seu sucesso e no de sua unidade — o que tornará mais fácil que desfrutem trabalhar a seu lado.
Uma vez ciente de seus pontos fortes e debilidades, o desafio seguinte é descobrir o que, realmente, você gosta de fazer. Qual o trabalho de seus sonhos? Em que medida ele corresponde àquilo que você faz hoje? Muita gente não sabe qual sua verdadeira paixão — ou está de tal forma presa à visão dos colegas que acaba indo parar na carreira errada.
A opinião geral sobre a atração exercida por essa ou aquela carreira muda constantemente. Vinte e cinco anos atrás, medicina e direito eram consideradas profissões financeiramente gratificantes e socialmente desejáveis. Hoje, uma série de médicos e advogados vive frustrada com o trabalho e percebe que sua escolha profissional talvez tenha sido excessivamente ditada por aquilo que diziam colegas e a opinião popular — e não pela probabilidade de que realmente viessem a gostar do trabalho. Fundos de hedge e private equity são as áreas mais badaladas do momento, mas quem entra nelas desprovido de forte entusiasmo pelo trabalho ali feito pode se ver, daqui a alguns anos, recomeçando do zero. Quem ama o que faz encontra forças para enfrentar reveses pessoais, superar adversidades, encarar e abordar as próprias falhas e trabalhar as longas horas geralmente necessárias para atingir plenamente seu potencial. 
Destaque-se em tarefas críticas
Se a pessoa não se destacar nas atividades centrais à área escolhida, será muito difícil ter sucesso. Parece algo de uma obviedade brutal, mas muitos executivos esquecem de identificar as três ou quatro atividades mais importantes para o sucesso em seu trabalho ou negócio. Se estiver pensando em trocar de emprego, é bom saber que tipo de atividade trará o sucesso no novo posto e, então, se perguntar se gostaria de estar fazendo isso. No cargo atual, identificar tarefas críticas o ajuda a determinar como distribuir seu tempo e cultivar suas habilidades.
Demonstre caráter e liderança
Embora soem vagos, caráter e liderança costumam fazer a diferença entre um bom desempenho e o desempenho estelar. Uma medida do caráter é o grau em que o indivíduo coloca os interesses da empresa e dos colegas à frente dos próprios. Um líder excelente está disposto a fazer coisas pelos outros ainda que não vá ganhar nada com isso. Atua como coach e como mentor. Pensa como se fosse o dono da empresa e busca saber o que faria se coubesse a si a decisão final. Está disposto a recomendar algo que traga benefícios para o desempenho geral da organização, possivelmente em detrimento do desempenho de sua unidade. Tem a coragem para acreditar que, em última instância, será premiado, ainda que seus atos possam ferir seus próprios interesses no curto prazo.
Ser um líder significa, ainda, estar disposto a dizer o que pensa — ainda que para manifestar uma opinião nada popular. Propostas do presidente costumam ser aceitas por todos, mesmo por aqueles que, no fundo, têm sérias reservas sobre a questão. Só que a maioria dos presidentes de empresa anseia desesperadamente por opiniões dissidentes, para poder tomar decisões melhores. Embora deva exercer discernimento para calcular o tom e o momento da dissidência, um líder emergente deve saber que pode atingir um platô se evitar correr riscos quando deveria estar afirmando aquilo que realmente pensa.
Mesmo executivos confiantes às vezes exageram o risco, para a carreira, de dizer o que pensam — e subestimam consideravelmente o risco de permanecerem calados. Sugiro às pessoas que adotem várias abordagens para poderem superar essa relutância: orientei executivos em ascensão, por exemplo, a poupar para adquirir certa segurança financeira e evitar o apego emocional excessivo ao cargo. Embora possa parecer que será impossível achar outro emprego tão bom, é preciso acreditar que existem, fora da empresa, muitas outras oportunidades atraentes.
 Em certos casos, aconselho a pessoa a se especializar em alguma área específica do negócio para ganhar confiança. Ou, ainda, a dedicar mais tempo para descobrir em que realmente acredita — em vez de tentar adivinhar o que o chefe gostaria de ouvir. No trabalho, assim como no esporte competitivo, é preciso jogar com confiança e até com certo abandono. Vários executivos com quem falei disseram que seu melhor momento veio quando juntaram coragem para discordar, com confiança, de chefes e colegas. Para sua surpresa, passaram a ser tratados com mais respeito na esteira desses episódios.
A maioria dos grandes presidentes preza o executivo em ascensão que diz o que pensa por um genuíno interesse naquilo que é melhor para a empresa. Agir da forma correta é uma recompensa em si — psicologicamente no curto prazo e profissionalmente no longo prazo. Essa abordagem exige, é claro, que a pessoa de certo modo acredite que a justiça prevalecerá. Raramente vejo alguém prejudicar a própria carreira por dizer o que pensa e articular corretamente uma posição contrária bem refletida (ainda que pouco popular). Já vi, contudo, muita gente confusa e amarga que empacou na carreira por evitar qualquer risco.
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Toda carreira gratificante terá altos e baixos, dias ruins, semanas ruins, meses ruins. Todo mundo sofrerá reveses e viverá situações desanimadoras. Certas pessoas desistem de seus planos quando topam com um obstáculo desses. Perdem o prumo e acabam ferindo o próprio desempenho — e a dor é ainda maior por ser causada pela própria pessoa. O objetivo dos conselhos dados nesse artigo é ajudar o leitor a evitar esses golpes contra si mesmo. Não há nada que alguém possa fazer para evitar que você atinja seu potencial; cabe a você o desafio de identificar seu sonho, adquirir a capacitação para chegar lá e exibir caráter e liderança. Depois disso, é ter a coragem para reavaliar periodicamente essa meta, fazer ajustes e seguir um rumo que reflita quem você realmente é. 

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Robert S. Kaplan ( rokaplan@hbs.edu) é presidente interino da Harvard Management Company e professor de prática administrativa na Harvard Business School, em Boston. Foi vice-presidente do conselho do Goldman Sachs Group.  

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