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sexta-feira, 15 de março de 2013


O líder, a dúvida e a humildade

Escrito por: 
  • Renato Grinberg
terça-feira, 5 março, 2013 - 10:14
Por que tantos executivos e empresários agem por impulso, mesmo sabendo que às vezes acertam e às vezes erram? Minha experiência mostra que reagir por impulso é uma forma de se livrar do desconforto da dúvida. Conforme a magnitude, a dúvida realmente angustia as pessoas. É melhor livrar-se dela o mais rapidamente possível, mesmo com o risco de tomar uma decisão equivocada. Temos uma necessidade inerente de ter certeza de tudo. Na verdade, isso é um grande impedimento para nos desenvolvermos porque, a partir do momento em que reconhecemos que não sabemos algo, abrimos uma porta para buscar o conhecimento. O filósofo grego Sócrates dizia: “Só sei que nada sei”.
Nossa natureza desenhou-nos para não ter dúvidas como uma estratégia de sobrevivência. Uma simples questão darwinista. Na época das cavernas, quando avistávamos algo se movimentando em nossa direção a certa distância, se ficássemos com dúvida de como agir, teríamos uma grande chance de ser devorados. Naquele cenário, a decisão deveria ser imediata: Atacar ou fugir!  O mundo evoluiu muito desde a época das cavernas e não há mais tigres-dentes-de-sabre ou outras feras selvagens andando por aí, mas ainda trazemos em nossa bagagem genética a mesmíssima programação para reagir ao perigo ou às ameaças que tínhamos no passado remoto.  Portanto, eliminar a dúvida o mais rápido possível faz parte dessa bagagem.

Realmente, não é fácil conviver com a dúvida, mas a verdade é que em nosso mundo, não ter dúvida pode ser muito prejudicial, pois a ausência dela atrasa nosso desenvolvimento pessoal e profissional. A estória a seguir me serve com um lembrete que ter dúvida pode ser muito bom...

Joseph estava sendo acusado do assassinato de um jovem e havia fortes evidências de que ele havia cometido o crime, porém, o corpo não havia sido localizado. No discurso de fechamento do caso, o advogado de defesa, sabendo que seu cliente provavelmente seria condenado, tentou uma última estratégia. “Senhoras e senhores do júri, tenho uma surpresa para todos vocês“, disse o advogado enquanto olhava para o relógio. “Em um minuto a pessoa que se presumia morta entrará nesta sala”, e ele olhou para a porta de entrada do recinto. Os jurados, meio perplexos, também olharam para a direção da porta. Um minuto se passou... e nada aconteceu. Finalmente o advogado disse: “Desculpem, eu inventei isso. Ninguém entrará por aquela porta, mas todos vocês olharam esperando que alguém entrasse. Portanto, mostrei a vocês que existe dúvida razoável em relação ao fato de que alguém foi assassinado e insisto que retornem da sala de deliberação com um veredicto de inocente“. Os jurados, claramente confusos, deixaram o recinto para se reunirem na sala de deliberação. Alguns minutos após, eles voltaram com o veredicto: culpado!
“Como?”, indagou o advogado de defesa. “Vocês devem ter alguma dúvida; eu vi todos olhando para a porta.” O representante do júri respondeu: “Sim, nós realmente olhamos, mas o seu cliente não olhou.”.
Conviver com a dúvida é mesmo um exercício difícil. No mundo dos negócios há o mito de que o bom líder nunca tem dúvidas. É óbvio que o gestor tem que decidir (muitas vezes uma decisão ruim é melhor do que a indecisão), mas não pode ser prisioneiro da imagem de infalível. O grande líder deve ser humilde o suficiente para admitir suas incertezas e deve considerar que a dúvida é justamente o caminho que pode levar a uma solução melhor.
Fonte: HBR